quarta-feira, 23 de março de 2016

Progressismo da Doutrina Espírita 2

              Antes de tudo, o porque do "2". É que em outro artigo, com nome diferente, já foi tratado desse tema.          
           

              Há algum tempo, num artigo anterior, fui questionado se, para mim, o caráter progressista da Doutrina Espírita só ocorre se forem admitidos erros de Kardec.
               E sabem de uma coisa? A pessoa está certa.

         
              Sem querer repetir argumentos anteriores (clique para ir lá), Allan Kardec deixou muito claro que a Doutrina dos Espíritos, a seu tempo - e sabemos que ainda hoje - era uma obra inacabada. Assim, vamos, para iniciar, ver e analisar o conceito de progressista.

            De acordo com o dicionário Houaiss[1], seria "relativo a progressismo". E o que seria progressismo? A mesma fonte, em seu conceito número 2, diz que é uma " corrente de pensamento ou atitude mental dos que aceitam a evolução ou mudanças, esp. em matéria de religião". Ou seja, aceitar a evolução ou mudanças, sem traçar um limite específico, como, por exemplo, mudanças científicas, mudanças sociais, etc, o que leva a perceber o quão amplo é o conceito, cabendos entender se Allan Kardec desejava circunscrevê-lo a algumas dessas áreas, ou não.

                 Em A Gênese[2], encontramos no item 55:

           "Um último caráter da revelação espírita, a ressaltar das condições mesmas em que ela se produz, é que, apoiando-se em fatos, a Doutrina tem que ser, e não pode deixar de ser, essencialmente progressiva, como todas as ciências de observação.(...)" (grifo nosso).

               E mais adiante, no mesmo item:

           "O Espiritismo, pois, estabelece como princípio absoluto somente o que se acha evidentemente demonstrado, ou o que ressalta logicamente da observação. Entendendo-se com todos os ramos da economia social, aos quais dá o apoio das suas próprias descobertas, assimilará sempre todas as doutrinas progressivas, de qualquer ordem que sejam, desde que hajam assumido o estado de verdades práticas e abandonado o domínio da utopia(...)"

            Poderia colocar mais referências[3]aqui, mas dentro dessa obra já se vê claramente que o codificador não estabeleceu fronteiras para o aspecto analisado que não a comprovação e realidade do das ideias que se quer incluir/estabelecer, e que a Doutrina se comunica com todas as áreas, levando a uma perfeita sintonia com o que traz o dicionário.

            Assim, levando-se em conta que não há cerceamento para as inovações de quais disciplinas específicas serão aceitas, entende-se que não é somente contradizer o que já está estabelecido que seria o caráter progressista do Espiritismo, mas também novidades tecnológicas, leis naturais que forem descobertas, mudanças sociais, enfim, tudo o que vier de novo e ficar patentemente comprovado será "assimilado", ou seja, absorvido por ele.

      E aí sim podemos questionar: o Espiritismo está sendo posicionado, através de seus adeptos, a respeito de novas questões? Qual está sendo a base? Estamos abertos para os novos acontecimentos ou estamos nos omitindo, ou ainda, aceitando tudo sem exame sério? Qual a distância apropriada entre o conservadorismo e o descuido na análise das informações novas e a falta dela? Como estão sendo orientados os jovens nesse sentido dentro das casas? A boa vontade está presente nas reuniões para avaliar o que há de ser incorporado, e vendo como a lógica trata dos assuntos ainda não abordados, ou pouco abordados? Quais as outras questões a serem olhadas e pensadas sobre o caráter progressistas, no ano do 159º aniversário de lançamento de O Livro dos Espíritos?

       Opinem à vontade, colaborem para a conversa, divulguem seus pensamentos nessa área livre.




[1]Dicionário Houaiss. Disponível em http://houaiss.uol.com.br/ Acesso em 23/03/2016.
[2] A. Kardec, A Gênese, Editora FEB, 53ª Edição. Disponível em http://www.febnet.org.br/wp-content/uploads/2012/07/A-genese_Guillon.pdf.  Acesso em 23/03/2016.
[3] Na Revista Espírita de janeiro 1866, p. 24, por exemplo, temos o seguinte trecho: "Ora, tomando como ponto de partida todos esses princípios na observação dos fatos, o Espiritismo não pode ser derrubado por uma teoria; mantendo-se constantemente no nível das idéias progressistas, não poderá ser ultrapassado(...)".
Já edição de  dezembro de 1868, p. 516, encontra-se esta passagem:" (...)o que hoje nos parece falso pode amanhã ser reconhecido como verdadeiro, em conseqüência da descoberta de novas leis, e isso tanto na ordem moral, quanto na ordem física. Contra essa eventualidade, a Doutrina nunca deverá estar desprevenida. O princípio progressivo, que ela inscreve no seu código, será a salvaguarda da sua perenidade e a sua unidade se manterá, exatamente porque ela não assenta no princípio da imobilidade.(...)." Link para as revistas: http://www.febnet.org.br/ba/file/Downlivros/revistaespirita/Revista1866.pdfhttp://www.febnet.org.br/ba/file/Downlivros/revistaespirita/Revista1868.pdf
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quarta-feira, 16 de março de 2016

Debate aberto: Questões 538 à 540 de O Livro dos Espíritos

Outros espiritualistas já falam em elementais há muito tempo. Na literatura espírita, o quanto temos de informação direta?
O que vocês acham desse assunto?
Para colaborar com a discussão, seguem abaixo as questões 538 à 540 de O Livro dos Espíritos, para quem quiser ler e refletir.
Postem suas conclusões, opinem à vontade. A ideia é florir com discussões saudáveis e úteis.
Segue também um link útil:
http://www.nossolar.org.br/nossolar/n_tema31.php


Questões:
538. Formam categoria especial no mundo espírita os Espíritos que presidem aos fenômenos da Natureza? Serão seres à parte, ou Espíritos que foram encarnados como nós?
“Que foram ou que o serão.”

a) — Pertencem esses Espíritos às ordens superiores ou às inferiores da hierarquia espírita?
“Isso é conforme seja mais ou menos material, mais ou menos inteligente o papel que desempenhem. Uns mandam, outros executam. Os que executam coisas materiais são sempre de ordem inferior, assim entre os Espíritos, como entre os homens.”

539. A produção de certos fenômenos, das tempestades, por exemplo, é obra de um só Espírito, ou muitos se reúnem, formando grandes massas, para produzi-los?
“Reúnem-se em massas inumeráveis.”

540. Os Espíritos que exercem ação nos fenômenos da Natureza
operam com conhecimento de causa, usando do livre-arbítrio, ou por efeito de instintivo ou irrefletido impulso?
“Uns sim, outros não. Estabeleçamos uma comparação. Considera essas miríades de animais que, pouco a pouco, fazem emergir do mar ilhas e arquipélagos. Julgas que não há aí um fim providencial e que essa transformação da superfície do globo não seja necessária à harmonia geral? Entretanto, são animais de ínfima ordem que executam essas obras, provendo às suas necessidades e sem suspeitarem de que são instrumentos de Deus. Pois bem, do mesmo modo, os Espíritos mais atrasados oferecem utilidade ao conjunto. Enquanto se ensaiam para a vida, antes que tenham plena consciência de seus atos e estejam no gozo pleno do livre-arbítrio, atuam em certos fenômenos, de que inconscientemente se constituem os agentes. Primeiramente, executam. Mais tarde, quando suas inteligências já houverem alcançado um certo desenvolvimento, ordenarão e dirigirão as coisas do mundo material. Depois, poderão dirigir as do mundo moral. É assim que tudo serve, que tudo se encadeia na Natureza, desde o átomo primitivo até o arcanjo, que também começou por ser átomo. Admirável lei de harmonia, que o vosso acanhado espírito ainda não pode apreender em seu conjunto!”
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quarta-feira, 9 de março de 2016

Indicação de livro: A história do Espiritualismo



 "Esta obra pode ser considerada a mais completa resenha
de fatos psíquicos da literatura mundial, no período por ela abrangido (...).

     (...) Conan Doyle, entretanto, não se satisfaz em relatar os fenômenos que surpreenderam a humanidade, com a força de uma "invasão organizada", segundo suas próprias palavras. Com notável bom senso, examina os resultados da investigação científica desses fenômenos(...)." (grifo nosso)

              Se você acha que a história antes do Espiritismo começou com as irmãs Fox e terminou diretamente com Kardec, saiba que não foi bem assim.

            Um livro que é antes Espiritualista, e quase não fala da Doutrina Espírita, mas que acho que vale a pena ser lido, ainda que eu seja cauteloso em colocar aqui qualquer coisa que "de fora", salvo pequenas exceções e minhas opiniões e interpretações.
             Do mesmo autor do detetive mais famoso do mundo, Sherlock Holmes, Arthur Conan Doyle fez a maior pesquisa mundial já realizada sobre o tema, documentando a história do Espiritualismo.
            Para quem estranhar o título, sim, é esse mesmo, A história do Espiritualismo, não "do Espiritismo". Esta foi uma tradução errada da primeira(s) edição do livro no país, e trata desde o fim do século XVIII, com Emmanuel Swedenborg, e perpassa inúmeras figuras, como o Reverendo Moses, irmãos Davenport, Coronel De Rochas, Alexander Aksakof, juiz Edmonds, entre muitos outros, chegando ao início do século XX. A lista de nomes é tão grande que, além do índice normal, ao menos a editora FEB colocou um índice onomástico, ou seja, um catálogo com os diversos personagens reais e onde encontrar cada um.
            Além disso, o livro traz, por exemplo, tipos de mediunidade pouco citados ou não citados nas obras básicas (por bons motivos), como a "mediunidade de placas fotográficas" e a escrita em ardósia.
            Ainda, narra as dificuldades que muitos desses médiuns, que não o desejavam ser, como Mr. Edward Wyllie, fotógrafo, enfrentaram, mostrando que alguns, por se tratar de interferência em seu ofício, como o citado, se viram tendo que cobrar. A propósito, a entrevista dele com a Sociedade de Pesquisas Psíquicas de Passadena, bem como o curto parágrafo anterior, valem a pena ser lidos.

"Esta obra, originada de pequenos capítulos esparsos, acabou por transformar-se numa narrativa que abrange, de certo modo, toda a história do movimento espiritualista. Eles foram redigidos sem que eu percebesse que já estava contando a história mais completa do movimento espiritualista, até então vinda à luz, com a vantagem de ser escrita por quem dele participava e possuía experiência direta de seu estágio atual."

            E mais: num trabalho de altíssimo nível, Conan Doyle diz as obras e mesmo as PÁGINAS das quais tira uma imensidade de suas informações e, pasmem, elas são averiguáveis, pois existem sites na internet que digitalizaram livros e periódicos na época (um inclusive de conteúdo exclusivamente ocultista, na qual se incluíram os espiritualistas). Eu mesmo o fiz - não com todas - e tive a maravilhosa surpresa de ver que o que ele falou está exatamente onde ele disse, quase 90 anos depois de lançada a primeira edição.
            Alguém pode se perguntar qual é a utilidade para os espíritas de lerem, já que não se ocupa exclusivamente da codificação Kardeciana. Sem querer esgotar as respostas aqui, o mínimo seria para ver que movimentos muito fortes ocorreram antes do professor lionês, e a trajetória de outros valentes espíritos encarnados que, em nome da verdade que era apresentada, assumiam a postura corajosa de testemunharem publicamente o que viram. Isso sem falar de célebres personagens no meio Espírita, como William Crookes, Eusapia Paladino, entre outros, que tem quase uma pequena biografia feita por Sir Arthur, contando mais do que suas contribuições, mas o que aconteceu, por exemplo, nos primeiros anos depois das fotos que tornaram o descobridor do tálio famoso até hoje no seio espírita.
            Em resumo, para quem quer se aprofundar no que veio antes, adquirir conhecimento sólido e ir muito além do usualmente divulgado, "A história do Espiritualismo", de Sir Arthur Conan Doyle é um verdadeiro e valiosíssimo documento histórico que oferta um nível de aprendizado extremamente elevado.

Referência:

CONAN DOYLE; Arthur. A história do Espiritualismo. Editora FEB, 2013. (Tanto o livro utilizado como a capa)
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