terça-feira, 27 de setembro de 2016

Deus está em toda parte


Em O Livro dos Espíritos, não encontramos a onipresença de Deus listada como de seus atributos. Mas, neste artigo, Kardec fala sobre o tema.





Como é que Deus, tão grande, tão poderoso, tão superior a tudo, pode imiscuir-se em detalhes ínfimos, preocupar-se com os menores atos e os menores pensamentos de cada indivíduo? Tal é a pergunta feita muitas vezes.
Em seu estado atual de inferioridade, só dificilmente os homens podem compreender Deus infinito, porque eles próprios são circunscritos, limitados e por isto o configuram circunscrito e limitado, como eles mesmos; representando-o como um ser circunscrito, dele fazem uma imagem à sua imagem. Nossos quadros que o pintam com traços humanos não contribuem pouco para alimentar este erro no espírito das massas, que nele mais adoram a forma do que o pensamento. É para a maioria um soberano poderoso, sobre um trono inacessível, perdido na imensidade dos céus, e porque suas faculdades e suas percepções são restritas, eles não compreendem que Deus possa ou se digne intervir diretamente nas menores coisas.
Na impotência em que se acha o homem de compreender a essência da divindade, não pode fazer senão uma ideia aproximada, auxiliado por comparações necessariamente muito imperfeitas, mas que, ao menos, lhe podem mostrar a possibilidade do que, à primeira vista, lhe parece impossível.
Suponhamos um fluido bastante sutil para penetrar todos os corpos. É evidente que cada molécula desse fluido produzirá sobre cada molécula da matéria com a qual está em contato uma ação idêntica à que produziria a totalidade do fluido. É o que a química nos mostra a cada passo.
Não sendo inteligente, esse fluido age mecanicamente apenas pelas forças materiais. Mas se supusermos esse fluido dotado de inteligência, de facilidades perceptivas e sensitivas, ele agirá, não mais cegamente, mas com discernimento, com vontade e liberdade; verá, ouvirá e sentirá.
As propriedades do fluido perispiritual dele nos podem dar uma ideia. Ele não é inteligente por si mesmo, porque é matéria, mas é o veículo do pensamento, das sensações e das percepções do Espírito; é em consequência da sutileza desse fluido que os Espíritos penetram por toda parte, perscrutam os nossos pensamentos, que veem e agem à distância; é a esse fluido, chegado a um certo grau de depuração, que os Espíritos superiores devem o dom da ubiquidade; basta um raio de seu pensamento dirigido para diversos pontos, para que eles possam aí manifestar sua presença simultânea. A extensão dessa faculdade está subordinada ao grau de elevação e de depuração do Espírito.
Mas os Espíritos, por mais elevados que sejam, são criaturas limitadas em suas faculdades. Seu poder e a extensão de suas percepções não poderiam, sob este ponto de vista, se aproximar de Deus. Contudo podem servir de ponto de comparação. O que o Espírito não pode realizar senão num limite restrito, Deus, que é infinito, o realiza em proporções infinitas. Há ainda, como diferença, que a ação do Espírito é momentânea e subordinada às circunstâncias, ao passo que a de Deus é permanente; o pensamento do Espírito só abarca um tempo e um espaço circunscritos, enquanto o de Deus abarca o Universo e a eternidade. Numa palavra, entre os Espíritos e Deus há a distância do finito ao infinito.
O fluido perispiritual não é o pensamento do Espírito, mas o agente e o intermediário desse pensamento. Como é o fluido que o transmite, dele está, sob certo modo, impregnado e, na impossibilidade em que nos achamos de isolar o pensamento, ele parece não fazer senão um com o fluido, assim como o som parece ser um com o ar, de sorte que podemos, por assim dizer, materializá-lo. Do mesmo modo que dizemos que o ar se torna sonoro, poderíamos, tomando o efeito pela causa, dizer que o fluido se toma inteligente.
Seja ou não seja assim o pensamento de Deus, isto é, que ele aja diretamente ou por intermédio de um fluido, para a facilidade de nossa compreensão representamos esse pensamento sob a forma concreta de um fluido inteligente, enchendo o Universo infinito, penetrando todas as partes da criação. A Natureza inteira está mergulhada no fluido divino; tudo está submetido à sua ação inteligente, à sua previdência, à sua solicitude; nenhum ser, por mais ínfimo que seja, deixa de estar, de certo modo, dele saturado.
Assim, estamos constantemente em presença da divindade; não há uma só de nossas ações que possamos subtrair ao seu olhar; nosso pensamento está em contato com o seu pensamento, e é com razão que se diz que Deus lê os nossos mais profundos refolhos do coração; estamos nele como ele em nós, segundo a palavra do Cristo. Para estender sua solicitude às menores criaturas, ele não tem necessidade de mergulhar seu olhar do alto da imensidade, nem de deixar a morada de sua glória, pois essa morada está em toda parte. Para serem ouvidas por ele, nossas preces não necessitam transpor o espaço, nem serem ditas com voz retumbante, porque, incessantemente penetrados por ele, nossos pensamentos nele repercutem.
A imagem de um fluido inteligente universal evidentemente não passa de uma comparação, mas própria a dar uma ideia mais justa de Deus que os quadros que o representam sob a figura de um velho de longas barbas, envolto num manto. Não podemos tomar nossos pontos de comparação senão nas coisas que conhecemos; é por isto que dizemos diariamente: o olho de Deus, a mão de Deus, a voz de Deus, o sopro de Deus, a face de Deus. Na infância da Humanidade, o homem toma estas comparações ao pé da letra; mais tarde seu Espírito, mais apto a apreender as abstrações, espiritualiza as ideias materiais. A ideia de um fluido universal inteligente, penetrando tudo, ─ como seria o fluido luminoso, o fluido calórico, o fluido elétrico ou quaisquer outros, se eles fossem inteligentes, ─ tem o objetivo de fazer compreender a possibilidade para Deus de estar em toda parte, de ocupar-se de tudo, de velar pelo broto da erva como pelos mundos. Entre ele e nós a distância foi suprimida. Nós compreendemos a sua presença, e esse pensamento, quando a ele nos dirigimos, aumenta a nossa confiança, porque não mais podemos dizer que Deus está muito longe e é muito grande para se ocupar de nós. Mas este pensamento, tão consolador para o humilde e para o homem de bem, é muito aterrador para o mau e para o orgulhoso endurecidos, que esperavam a ele subtrair-se, graças à distância, e que, de agora em diante, sentir-se-ão sob a influência de seu poder.
Nada nos impede de admitir para o princípio de soberana inteligência um centro de ação, um foco principal radiando sem cessar, inundando o universo com os seus eflúvios, como o Sol com a sua luz. Mas onde está esse foco? É provável que ele não esteja mais fixo num ponto determinado do que a sua ação. Se simples Espíritos têm o dom da ubiquidade, essa faculdade, para Deus, deve ser sem limites. Enchendo Deus o Universo, poder-se-ia admitir, a título de hipótese, que esse foco não necessita transportar-se, e que ele se forme em todos os pontos onde sua soberana vontade julgue a propósito produzir-se, de onde se poderia dizer que ele está em toda parte e em parte alguma.
Diante destes problemas insondáveis, nossa razão deve humilhar-se. Deus existe: não poderíamos duvidar; ele é infinitamente justo e bom: é sua essência; sua solicitude se estende a tudo: nós o compreendemos agora; incessantemente em contato com ele, podemos orar a ele com a certeza de ser ouvidos; ele não pode querer senão o nosso bem, por isso devemos ter confiança nele. Eis o essencial. Quanto ao mais, espere­mos que sejamos dignos de compreendê-lo.
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quarta-feira, 14 de setembro de 2016

A problemática de se colocar o Espiritismo como religião



O Espiritismo, segundo Kardec, só é religião na acepção filosófica do termo, dentro de uma definição que ele mesmo dá, qual seja, a criação de laços que estabelecem a fraternidade  e a solidariedade, a indulgência e a benevolência entre as pessoas[1]. Nesse mesmo sentido, ele diz que, em tal significado, poderia ser dizer "religião da amizade" e "religião da família". Jamais a Doutrina Espírita pode ser vista como religião na acepção usual do termo, pois que isso implicaria em dizer que ela tem dogmas, uma estrutura sacerdotal, cultos e práticas exteriores definidas que se repetem invariavelmente cuja observância é obrigatória, e uma verdade produto de revelações divinas vindo diretamente de Deus a um homem, e não do trabalho de análise, comparação e categorização das informações dadas não por um, mas por diversos Espíritos. Por isso, pode-se dizer que a ciência espírita não tem nada, absolutamente nada do que as religiões, tal como conhecidas e entendidas histórica e culturalmente nos povos, tem.

          Além disso, dessa visão equivocada acerca do que é o Espiritismo, surgem consequências que atrasam o seu avanço e sua interação com o mundo e com as religiões, como o afastamento da aliança que ela veio fazer entre as ciências e as religiões, a aceitação de qualquer coisa que escrita ou dita por certos Espíritos, e a estagnação da essência da Doutrina, do que ela é mesmo, uma ciência.
           
            Pelo fato de ser encarada como mais uma religião, ela é automaticamente transformada em "concorrente" das outras, impossibilitando o diálogo com os diversos credos religiosos, o que é contrário ao codificador, pois que ele mesmo fala de espíritas de várias crenças religiosas, na Revista Espírita de maio de 1859 [2]:
"Melhor observado desde que se vulgarizou, o Espiritismo vem lançar luz sobre uma porção de problemas até aqui insolúveis ou mal resolvidos. Seu verdadeiro caráter é, pois, o de uma ciência e não de uma religião e a prova é que conta como adeptos homens de todas as crenças, os quais, nem por isso, renunciaram às suas convicções: católicos fervorosos, que praticam todos os deveres de seu culto; protestantes de todas as seitas; israelitas, muçulmanos e até budistas e bramanistas. Há de tudo, menos materialistas e ateus, porque essas ideias são incompatíveis com os princípios espíritas." (negrito nosso)


            Não somente isso, no mesmo artigo[2], referindo-se à Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, diz que "Ela tem um caráter tão diverso que os seus estatutos proíbem tratar de questões religiosas."

              Assim, caso fosse realmente uma religião, como existiriam membros de tantas convicções diferentes presentes na Sociedade,  e por que seria proibido discutir-se questões religiosas lá?

            Por outro lado, se propagar que o Espiritismo é religião torna refratários a estudá-lo muitos pesquisadores e homens de ciência sérios, que pensam automaticamente no significado usual da palavra, afastando-o dos olhares da academia, por cair na ideia de que ele se baseia em crenças não racional e cientificamente fundamentadas, e não passíveis de avaliação lógica, não merecendo a atenção dos cientistas. Assim, como poderia a ciência espírita fazer seu papel de unir os dois, quando é propagandeada como algo que não é?

          Outro ponto importante é que, colocando-se a Doutrina como religião, facilita-se a criação de algo extremamente comum no seio do movimento, que são médiuns e Espíritos inquestionáveis, dos quais tudo o que vêm é considerado Espiritismo (mesmo que atente contra a lógica e o ensinado por ele) e, sendo algo que veio deles, é aceito sem exame sério,  sendo visto com maus olhos quem aponte os erros (alguns graves) cometidos, só por que veio de tais ou quais encarnados ou desencarnados, criando barreiras para a análise e refutação de suas ideias em muitos meios, ainda quando contrárias à codificação.
           
            De observância capital também é o método de Kardec, que consistia em passar tudo pelo crivo da razão, que exige seja examinado tudo o que venha dos Espíritos, sejam quem forem; e também a concordância, segundo a qual, para se tirar qualquer conclusão sobre algum assunto, deve-se averiguar se as informações dadas por diversos Espíritos, em lugares diferentes e através de médiuns estranhos uns aos outros combinam. Para melhor elucidar, seguem dois trechos, um de O Evangelho Segundo o Espiritismo, Introdução, item II - Autoridade da Doutrina Espírita[3], e o outro da Revista Espírita de março de 1864 - Da perfeição dos seres criados [4]:

            "O primeiro controle é, sem contradita, o da razão, ao qual cumpre se submeta, sem exceção, tudo o que vem dos Espíritos. Toda teoria em manifesta contradição com o bom-senso, com uma lógica rigorosa e com os dados positivos já adquiridos, deve ser rejeitada, por mais respeitável que seja o nome que traga como assinatura."

          "Um princípio, seja qual for, para nós só adquire autenticidade pela universalidade do ensinamento, isto é, por instruções idênticas dadas em todos os lugares por médiuns estranhos uns aos outros sem sofrer as mesmas influências, notoriamente isentos de obsessões e assistidos por Espíritos bons e esclarecidos."

            Olhando-se a ciência Espírita como religião, esse cuidado e esse método ficam esquecidos, até mesmo por incompatibilidade, pois na ciência é necessário o controle e métodos de comprovação, enquanto naquela tudo o que for dito por determinado ser é aceito como verdade e não precisa (e nem deve) ser examinado, confrontado. O argumento da autoridade ("é assim por que ele/ela disse") substitui o da comprovação científica, que demanda experiências, esforços, perguntas sobre os pontos duvidosos e, desse modo, abandona-se a essência mesma do Espiritismo. O abandono de tal método (que na prática hoje é simplesmente ignorado, senão na totalidade, pelo menos na maioria dos casos) fez com que houvesse uma paralisação no avanço da ciência espírita nos últimos 147 anos, pois que sem pesquisa rigorosa, não há como dar andamento a ela.

         Juntamente com todos os argumentos acima citados, associe-se o fato de que na leitura da Revista Espírita (que faz parte das obras fundamentais), encontra-se o codificador referindo-se ao Espiritismo o tempo todo como ciência, refutando diversas vezes a ideia dele como religião. Assim, só por que, em um único artigo, e com um conceito que, se adotado, transforma em religião vários outros institutos que não são entendidos vulgarmente como tal (família e amizade, por exemplo), não significa que exista, de fato, um tríplice aspecto.

             Diante de todo o exposto, pergunta-se: quem realmente pensa, quando se fala em religião, como ela sendo simplesmente um laço moral, e acredita que amizade e família também são religiões? O que se vem automaticamente em mente, não é a ideia de algo estruturado, hierarquizado, com cultos e formas exteriores, nos quais existe uma verdade que veio diretamente de Deus e que, portanto, não pode nem deve ser questionada, e não pode modificar-se? Tal descrição é totalmente incompatível com o que é a Doutrina Espírita.
           
            Sendo assim, frente à tudo o que foi discorrido, conclui-se que colocar o Espiritismo como religião, e o divulgar como sendo uma, não somente é anti-kardequiano, como também prejudica a marcha da própria Doutrina.


Referências:


[1]A. Kardec. Revista Espírita, dezembro de 1868. Disponível em http://ipeak.net/site/estudo_janela_conteudo.php?origem=6250&&idioma=1. Acesso em 13/07/2016.
[2]A. Kardec. Revista Espírita, maio de 1859. Disponível em http://ipeak.net/site/estudo_janela_conteudo.php?origem=2694&&idioma=1. Acesso em 13/07/2016.
[3]A. Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Disponível em http://ipeak.net/site/estudo_janela_conteudo.php?origem=2870&&idioma=1. Acesso em 13/07/2016.
[4]A. Kardec.  Revista Espírita, março de 1864. Disponível em http://ipeak.net/site/estudo_janela_conteudo.php?origem=5587&&idioma=1. Acesso em 13/07/2016.
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terça-feira, 6 de setembro de 2016

Marcas no perispírito?


       Muitos já devem ter ouvido falar que o perispírito tem órgãos, e que problemas físicos que a pessoa traz ao nascer vêm de marcas que ficaram nele da última reencarnação. Será que é assim mesmo?






            Algo que muitas pessoas já devem ter ouvido falar é que o perispírito tem órgãos, e que quando um fumante desencarna, por exemplo, ele volta para o mundo espiritual com marca no perispírito, como num "pulmão fluídico" e que, por causa dessa marca, ele terá problemas respiratórios ao reencarnar. O mesmo se daria, na região da garganta, com alguém que bebesse veneno corrosivo, no fígado com quem era alcoólatra, e até, numa dúvida que ronda a cabeça de muitos adolescentes, com quem faz tatuagem.

            Para apresentar nosso ponto de vista, começamos com Kardec, no item 257, de O Livro dos Espíritos, que recebeu o nome de "Ensaio teórico da sensação nos Espíritos":

"Ao passarem de um mundo a outro, os Espíritos mudam de envoltório, como nós mudamos de roupa, quando passamos do inverno ao verão, ou do pólo ao equador. (...)Não possuindo órgãos sensitivos, eles podem, livremente, tornar ativas ou nulas suas percepções." (grifo nosso)

            Assim, logo nessa parte, já é destruída a ideia de que os desencarnados possuem órgãos funcionais (um estômago com função de digerir alimentos, por exemplo). Logo, não havendo essa parte no perispírito, obviamente não há que se falar em marcas no que não existe. E, também, se não há funções, o sofrimento causado, no mundo espiritual, não é físico, conforme explica o codificador, no mesmo item:

"A dor que sentem não é, pois, uma dor física propriamente dita: é um vago sentimento íntimo, que o próprio Espírito nem sempre compreende bem, precisamente porque a dor não se acha localizada e porque não a produzem agentes exteriores; é mais uma reminiscência do que uma realidade (...)" (grifo nosso)

            E mais a frente, ao falar de um Espírito que sentia os vermes a lhe roerem:

"Era antes a visão do que se passava com o corpo, ao qual ainda o conservava ligado o perispírito, o que lhe causava a ilusão, que ele tomava por realidade." (grifo nosso)

            Alguns hão de argumentar: "mas se eles possuem órgãos, mesmo sem função, eles não poderiam ter marcas que repercutem no ser quando reencarna?". A isso, refutamos com a lógica: sabendo que o perispírito é elástico, e se amolda a qualquer formato, a primeira forma que ele toma, ao reencarnar, é a do espermatozóide ligado ao óvulo. Só ao longo dos meses de gestação é que, pouco a pouco, os órgãos foram se formando. Em tal situação, pergunta-se: o que ocorreu com a tal marca, durante o processo de criação do corpo, antes mesmo de se formarem os órgãos físicos?

            Além disso, damos outro exemplo: alguém que desencarnou sem uma perna. Nesse caso, o perispírito, naquela área, deixou de existir, e o Espírito retornaria à vida espírita faltando uma perna no corpo fluídico. Logo, sem essa parte, quando reencarnasse, ele, pela alteração do perispírito (ausência da perna), deveria não ter, outra vez, a perna, quando reencarnasse, o que faria ele desencarnar sem a perna no corpo espiritual, outra vez, e quando fosse reencarnar, novamente viria sem ela, pelo que foi falado. Assim, teríamos uma sequência infinita na qual a alteração no perispírito faria com que ele ficasse permanentemente sem uma parte do corpo (desencarna sem a parte, volta sem parte, e fica indo e voltando assim num ciclo que não teria fim).

            Aos que dizem que o perispírito continua quando uma parte do corpo é amputada, e o justificam pelo fato de muitos que passam por essa experiência continuarem sentindo a parte que não mais existe, trazemos a lucidez do codificador:

"Toda gente sabe que aqueles a quem se amputou um membro costumam sentir dor no membro que lhes falta. Certo que aí não está a sede, ou, sequer, o ponto de partida da dor. O que há, apenas, é que o cérebro guardou desta a impressão." (grifo nosso)

            Diante de todo o exposto, vê-se que a teoria das marcas no perispírito carece de fundamento racional, sendo contrária ao que ensina a Doutrina Espírita e que as explicações para muitos fatos precisam de outros argumentos.


E vocês, o que acham?

Deixem sua opinião ;)


Referência:


KARDEC, Allan.  O Livro dos Espíritos. Disponível: http://ipeak.net/site/estudo_janela_conteudo.php?origem=949&&idioma=1. Acesso em 01/09/2016.



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segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Um embrião das casas espíritas atuais?

Na Revista Espírita de janeiro de 1864, num artigo intitulado " Inauguração de vários grupos e Sociedades Espíritas", temos o seguinte trecho:



"Em Lyon acaba de constituir-se um novo grupo em condições especiais que merecem ser assinaladas, como encorajamento e bom exemplo. Esse grupo tem um duplo objetivo: a instrução e a beneficência. Relativamente à instrução, ele se propõe consagrar uma parte menor que a geralmente destinada às comunicações mediúnicas, mas dedicar, em contrapartida, uma parte mais longa às instruções orais, visando desenvolver e explicar os princípios do Espiritismo. Relativamente à beneficência, a nova sociedade se propõe vir em auxílio às pessoas necessitadas, por meio de dádivas in natura de objetos usuais, tais como roupa branca, vestimenta, etc. Além do que ela puder recolher, as senhoras que dela fazem parte dão o seu contributo de trabalho pessoal na confecção de roupas, e por visitas domiciliares aos pobres doentes."


Dessa passagem, comentemos algumas partes:

"(...)condições especiais que merecem ser assinaladas, como encorajamento e bom exemplo."

Aqui vê-se que tal modelo era diferente da maioria dos grupos que vinham sendo fundados até então, pela parte "condições especiais", e que Kardec aprovava essas condições, ao dizer que elas mereciam ser assinaladas "como encorajamento e bom exemplo".




"Relativamente à instrução, ele se propõe consagrar uma parte menor que a geralmente destinada às comunicações mediúnicas, mas dedicar, em contrapartida, uma parte mais longa às instruções orais, visando desenvolver e explicar os princípios do Espiritismo."


Um tempo menor para as comunicações mediúnicas e uma parte mais longa às instruções orais, com o objetivo de desenvolver e explicar os princípios da Doutrina Espírita. O que é isso, se não as reuniões mediúnicas privativas, e as palestras públicas, com estas ocupando, geralmente, a maior parte do tempo da instituição e aquelas um tempo consideravelmente menor? 





"Relativamente à beneficência, a nova sociedade se propõe vir em auxílio às pessoas necessitadas, por meio de dádivas in natura de objetos usuais, tais como roupa branca, vestimenta, etc."


Quantos lugares dão roupas? Se trocar o termo "roupa branca" por "alimento" ou "sopa", tem-se um dos trabalhos assistenciais mais realizados pelas instituições espíritas.  



"Além do que ela puder recolher, as senhoras que dela fazem parte dão o seu contributo de trabalho pessoal na confecção de roupas, e por visitas domiciliares aos pobres doentes."

Distribuição de enxovais? Visitas aos hospitais e pessoas doentes em casa? Só faltou colocar o passe, como é ou era feito por muitos grupos espíritas brasileiros.

Por fim, foi interessantíssimo encontrar essa passagem na Revista Espírita, passagem essa que dá aval para muitas práticas, por vezes condenadas no meio espírita. Vale ler o artigo inteiro claro, mas sobretudo o que vem depois desse trecho, pois o codificador fala, com base nesse fato, do bem, do verdadeiro objetivo do Espiritismo, e da caridade.

E você? O que acha?
Deixe seu comentário!


Referência:
A. Kardec. Revista Espírita, janeiro de 1864. Disponível em http://ipeak.net/site/estudo_janela_conteudo.php?origem=5564&idioma=1&f=
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quinta-feira, 25 de agosto de 2016

[Debate] Uma questão acerca da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas e os grupos espíritas de hoje

A Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas (a fundada por Kardec) era elencada oficialmente como sociedade científica. Por que os grupos espíritas, hoje, são estatutariamente instituições religiosas?

Subsídio:

"(...)a Sociedade, elencada oficialmente entre as sociedades científicas, não é uma confraria nem uma congregação, mas uma simples reunião de pessoas que se ocupam do estudo de uma ciência nova, que ela aprofunda; que, longe de visar o número, mais prejudicial do que útil aos trabalhos, ela o restringe em vez de aumentá-lo, pela dificultação das admissões (...)" (grifos meus).


Referência:
Revista Espírita de junho de 1863.
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quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Conceitos simples: Espiritismo


     Neste conceito, palavras do próprio codificador, com sua clareza e precisão, expostas no preâmbulo da obra "O que é o Espiritismo".


"O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática ele consiste nas relações que se estabelecem entre nós e os espíritos; como filo­sofia, compreende todas as consequências morais que decorrem dessas mesmas relações."

"O Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal."



Referência:

A. Kardec, O que é o Espiritismo?. Disponível em http://ipeak.net/site/estudo.php?idioma=1. Acesso em 11/08/2016.
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quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Excertos de Kardec: Analise tudo

      No artigo a seguir, Allan Kardec discorda do Espírito Lázaro (que tem mensagens em O Evangelho Segundo o Espiritismo, inclusive). Analise tudo, a exemplo do codificador.


Sobre os instintos

(SOCIEDADE ESPÍRITA DE PARIS ─ MÉDIUM: SRA. COSTEL)

Ensinar-te-ei o verdadeiro conhecimento do bem e do mal, que o Espírito confunde com muita frequência. O mal é a revolta dos instintos contra a consciência, este tato interior e delicado que é o tato moral. Quais os limites que o separam do bem que ele contorna por toda parte? O mal não é complexo; é uno e emana do ser primitivo, que quer a satisfação dos instintos às custas do dever.
Primitivamente destinado a desenvolver no homem animal o cuidado de sua conservação e de seu bem-estar, o instinto é a única origem do mal, porque, persistindo mais violento e mais áspero em certas naturezas, ele as impele a se apoderarem do que desejam ou a concentrar o que possuem.
O instinto a que os animais obedecem cegamente, e que é a sua própria virtude, deve ser incessantemente combatido pelo homem que quer elevar-se e substituir o grosseiro utensílio da necessidade pelas armas finamente cinzeladas da inteligência.
Pensas, porém, que nem sempre o instinto é mau e que, por vezes, a Humanidade lhe deve sublimes inspirações, como, por exemplo, na maternidade e em certos atos de dedicação, nos quais com presteza e segurança substitui a reflexão. Minha filha, tua objeção é precisamente a causa do erro em que caem os homens prontos a desconhecerem a verdade sempre absoluta nas suas consequências.
Sejam quais forem os bons resultados de uma causa má, os exemplos jamais devem levar a concluir contra as premissas estabelecidas pela razão. O instinto é mau, porque é puramente humano e a Humanidade não deve pensar senão em despojar-se, em deixar a carne para elevar-se ao Espírito. Se o mal caminha paralelamente ao bem, é que o seu princípio muitas vezes tem resultados opostos a si mesmo, que o fazem desconhecido do homem leviano e arrastado pela sensação.
Nada de verdadeiramente bom pode emanar do instinto. Um impulso sublime não é devotamento, assim como uma inspiração isolada não é gênio. O verdadeiro progresso da Humanidade é a sua luta e o seu triunfo contra a essência mesma de seu ser. Jesus foi enviado à Terra para o provar humanamente. Ele pôs a descoberto a verdade, bela fonte escondida nas areias da ignorância. Não perturbeis mais a limpidez da linfa divina pelos compostos do erro. E, crede, os homens que não são bons e devotados senão instintivamente, são maus, porque sofrem uma cega dominação que de repente pode precipitá-los no abismo 
LÁZARO

OBSERVAÇÃO: Não obstante o nosso respeito pelo Espírito de Lázaro, que nos tem dado tantas e tão belas páginas, permitimo-nos não concordar com suas últimas proposições. Pode-se dizer que há duas espécies de instintos: o animal e o moral. O primeiro, como diz muito bem Lázaro, é orgânico; é dado aos seres vivos para a sua conservação e a de sua descendência. Ele é cego e quase inconsciente, porque a Providência quis dar um contrapeso à sua indiferença e à sua negligência. Já o mesmo não se dá com o instinto moral, que é privilégio do homem. Pode assim ser definido: Propensão inata para fazer o bem ou o mal. Ora, essa propensão é devida ao estado de maior ou menor avanço do Espírito. O homem cujo Espírito já é depurado faz o bem sem premeditação e como uma coisa muito natural, pelo que se admira de ser louvado. Assim, não é justo dizer que “os homens que não são bons e devotados senão instintivamente, são maus, porque sofrem uma cega dominação que de repente pode precipitá-los no abismo.” Os que são instintivamente bons e devotados denotam um progresso realizado; nos que o são intencionalmente, o progresso está por realizar-se, por isso há trabalho e luta entre os dois sentimentos. No primeiro, a dificuldade está vencida; no segundo, deve ser vencida. O primeiro é como um homem que sabe ler, e lê sem esforço, quase sem se aperceber; o segundo é como o que soletra. Por que um chegou mais tarde, terá menos mérito que o outro?


Referência:
A. Kardec. Revista Espírita, fevereiro de 1862. Disponível em http://ipeak.net/site/estudo_janela_conteudo.php?origem=5233&idioma=1&f=Acesso em 04/08/2016.
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segunda-feira, 1 de agosto de 2016

O sectarismo interno


     A Doutrina Espírita é livre de preconceitos, não condena nenhuma religião, e apoia a fraternidade universal.

     Entretanto, quando se fala de trabalhar mediunicamente em mais de uma casa, tomar passe em mais de um centro, frequentar mais de uma instituição espírita, ou outras atividades, tal atitude é vista com maus olhos, até onde eu percebo. Note-se que aqui já é uma atitude do movimento, não da ciência espírita.

     A palavra "sectarismo", segundo o dicionário Houaiss[1], é assim definida:

"sectarismo

substantivo masculino ( sXIV)
1 espírito limitado, estreito, de seita

2 estado de espírito ou atitude sectária; intransigência, intolerância"


     Vê-se que tal termo não combina com o Espiritismo, e até hoje não encontrei fundamentação kardeciana que impeça um trabalhador de agir em duas casas espíritas. Alguns talvez possam argumentar sobre a formação de uma "família espiritual"; mas e a família universal, o amor entre todos, que é o objetivo? Até onde eu percebo, as barreiras são colocadas no plano material, e não existem do outro lado. O bem não tem limite, não tem portões específicos, nem nomes próprios, e a caridade não se importa em ser feita em mais de um lugar. Fazendo-se um bom trabalho em todas que se esteja, qual seria o problema?

     Além disso, acredito que o atendimento dos vários locais tenham características específicas, e o que se precisa pode estar ora em um, ora em outro.

     E vocês, o que acham? Acreditam que esse sectarismo interno realmente existe? Deve-se ou não ser aceito que alguém auxilie, seja como for, em mais de uma instituição espírita? Opinem.


Referência:

Dicionário Houaiss. Disponível em houaiss.uol.com.br. Acesso em 01/08/2016.
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segunda-feira, 25 de julho de 2016

Excertos de Kardec: Poesia sobre a prece

A Revista Espírita também tinha lugar para a arte. Além de haver considerações sobre o assunto, vez ou outra aparecia lá alguma poesia, fosse ela mediúnica ou não.



Um dos nossos correspondentes de Lyon nos dirige o seguinte trecho de poesia. Ele entra muito no espírito da Doutrina Espírita para que nos furtemos ao prazer de lhe abrir espaço em nossa Revista. 
JOLY


A PRECE

Que eu não posso, mortais, com meus fracos acentos
Dar-vos ao coração o mais sublime incenso!
Ensinar-vos aqui, no colher desta messe
O que é a prece em si mesma e o que é fazer a prece.
É um impulso de amor, de fluídico ardor
Que se escapa da alma e se eleva ao Senhor.
Sublimada expansão da humilde criatura
Que retorna à sua fonte e eleva a sua natura!
Orar não muda em nada a lei do Pai Eterno
Sempre imutável, mas o coração paterno
Derrama o seu influxo no que o implora
E assim redobra o ardor do fogo que o devora.
É então que ele se sente crescer e elevar
E pelo amor do próximo o peito pulsar.
Mais se expande no amor, mais o sublime Ser
Enche-lhe o coração com os dons do saber.
Desde então, santo anseio de orar pelos mortos,
Sob o peso da dor e pungentes remorsos,
Nos mostra as exigências do seu novo estado,
De a eles dirigir seu fluido suavizado,
Cuja eficácia, bálsamo consolador,
Penetra-lhes no ser como um libertador.
Tudo neles se anima; um raio de esperança
Ajuda-lhes o esforço, à liberdade os lança.
Assim como aos mortais vencidos pelo mal
Que um bálsamo supremo devolve ao normal,
Eles se regeneram pelo impulso oculto
De augusta prece, ardente, e seu divino culto.
Redobremos o ardor; nada se perde enfim;
Preces, preces por eles, preces até o fim;
A prece, sempre a prece, essa estrela divina
Faz-se foco de amor e no final domina.
Oremos pelos mortos, sim, e logo por
Sua vez nos lançarão doce raio de amor.

Nestes versos, evidentemente inspirados por um Espírito elevado, o objetivo e os efeitos da prece são definidos com perfeita exatidão. Certamente Deus não derroga suas leis a pedido nosso, pois seria a negação de um de seus atributos, que é a imutabilidade; mas a prece age, principalmente sobre aquele que é seu objeto; é, a princípio, um testemunho de simpatia e de comiseração que se lhe dá e que, por isso mesmo, lhe faz sentir sua pena menos pesada. Em segundo lugar, tem por efeito ativo excitar o Espírito ao arrependimento de suas faltas e inspirar-lhe o desejo de repará-las pela prática do bem. Deus disse: “A cada um segundo as suas obras”. Esta lei, eminentemente justa, põe a sorte em nossas próprias mãos e tem como consequência subordinar a duração da pena à duração da impenitência. Daí se segue que a pena seria eterna, se eterna fosse a impenitência. Assim, se, pela ação moral da prece, provocarmos o arrependimento e a reparação voluntária, por ela mesma abreviaremos o tempo de expiação. Tudo isto está perfeitamente claro nos versos acima. Esta doutrina pode não ser muito ortodoxa aos olhos dos que creem num Deus impiedoso, surdo à voz que implora, e que condena a torturas sem fim suas próprias criaturas por faltas numa vida passageira; mas convir-se-á que ela é a mais lógica e mais conforme à verdadeira justiça e à bondade de Deus. Tudo nos diz, a religião como a razão, que Deus é infinitamente bom. Com o dogma do fogo eterno, é preciso ajuntar que ele é, ao mesmo tempo, infinitamente impiedoso, dois atributos que se destroem reciprocamente, pois um é a negação do outro. Aliás, o número dos partidários da eternidade das penas diminui dia a dia, o que é um fato positivo e incontestável. Em breve estará tão restrito que poderão ser contados, e mesmo que desde hoje a Igreja taxasse de heresia e, consequentemente, rejeitasse de seu seio todos quantos não creem nas penas eternas, entre os católicos haveria mais heréticos do que verdadeiros crentes e seria necessário condenar, ao mesmo tempo, todos os eclesiásticos e teólogos que, como nós, interpretam essas palavras num sentido relativo e não absoluto.


Referência:

A. Kardec. Revista Espírita, junho de 1861. Disponível em 
http://ipeak.net/site/estudo_janela_conteudo.php?origem=5077&idioma=1&f=. Acesso em 25/07/2016.
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terça-feira, 19 de julho de 2016

Excertos de Kardec: Baltazar, o Espírito gastrônomo

Afinal, os Espíritos comem? O artigo a seguir traz ensinamentos e explica questões que podem remover a ideia que se pode fazer sobre alimentação de desencarnados.




Baltazar, o Espírito gastrônomo


(SOCIEDADE, 19 DE OUTUBRO DE 1860)

Numa reunião espírita particular apresentou-se espontaneamente um Espírito, sob o nome de Baltazar, e ditou a seguinte frase por meio de batidas:
“Gosto da boa mesa e das mulheres; viva o melão e a lagosta, o café e o licor!”
Pareceu-nos que tais disposições de um habitante do outro mundo poderia dar lugar a um estudo sério, do qual poderíamos tirar um ensinamento instrutivo sobre as faculdades e sensações de certos Espíritos. A nosso ver, era um interessante objeto de observação que se apresentava por si mesmo, ou, melhor ainda, que talvez tivesse sido enviado pelos Espíritos elevados, desejosos de nos fornecerem meios de instrução. Seríamos culpados se não o aproveitássemos. É evidente que aquela frase burlesca revela, da parte do Espírito, uma natureza muito especial, cujo estudo pode lançar uma nova luz sobre o que podemos chamar a fisiologia do mundo espírita.
Eis por que a Sociedade julgou dever evocá-lo, não por um motivo fútil, mas na esperança de encontrar um novo assunto para instrução.
Certas pessoas creem que só se pode aprender com o Espírito dos grandes homens. É um erro. Sem dúvida só os Espíritos de escol nos podem dar lições de alta filosofia teórica, mas o conhecimento do estado real do mundo invisível não é para nós menos importante. Pelo estudo de alguns Espíritos, surpreendemos, de certo modo, a natureza em flagrante. É vendo as chagas que podemos encontrar o meio de curá-las. Como nos daríamos conta das penas e dos sofrimentos da vida futura, se não tivéssemos visto Espíritos infelizes? Por eles compreendemos que se pode sofrer muito sem estar no fogo e nas torturas materiais do Inferno, e esta convicção, dada pelo espetáculo da ralé da vida espírita, não é uma das causas que menos contribuíram para atrair partidários à Doutrina.
1. Evocação:
─ Meus amigos, eis-me aqui, diante de uma grande mesa, mas ah! Está vazia!
2. ─ Esta mesa está vazia, é certo; mas quereis dizer-nos de que vos serviria se estivesse carregada de alimentos? Que faríeis deles?
─ Sentiria o seu aroma, como outrora lhes saboreava o gosto.

OBSERVAÇÃO: Esta resposta é todo um ensinamento. Sabemos que os Espíritos têm as nossas sensações e percebem os odores tão bem quanto os sons. Não podendo comer, um Espírito material e sensual se repasta da emanação dos alimentos; saboreia-os pelo olfato, como em vida o fazia pelo paladar. Há, pois, algo de material em seu prazer; mas como, na verdade, há mais desejo do que realidade, este mesmo prazer, aguilhoando os desejos, torna-se um suplício para os Espíritos inferiores, que ainda conservaram as paixões humanas.

3. ─ Falemos muito seriamente, peço-vos. Nosso propósito não é brincar, mas de nos instruirmos. Tende a bondade de responder seriamente às nossas perguntas e, se for necessário, servi-vos da assistência de um Espírito esclarecido. Tendes um corpo fluídico, bem o sabemos. Mas dizei, nesse corpo há um estômago?
─ Estômago também fluídico, onde só os aromas podem passar.
4 ─ Quando vedes comidas apetitosas, sentis desejo de comer?
─ Ah! Comer! Eu não posso mais. Para mim, esses alimentos são o que são as flores para vós: cheirais, mas não comeis. Isto vos contenta. Pois então! Também eu fico contente.
5. ─ Sentis prazer vendo os outros comerem?
─ Muito, quando estou perto.
6. ─ Sentis necessidade de comer e beber? Notai que dizemos necessidade; há pouco havíamos dito desejo, o que não é a mesma coisa.
─ Necessidade, não; mas desejo, sim, sempre!
7. ─ Esse desejo fica plenamente satisfeito pelo cheiro que aspirais? É a mesma coisa que se realmente comêsseis?
─ É como se eu vos perguntasse se a vista de um objeto que desejais ardentemente vos substitui a posse desse objeto.
8. ─ Assim, parece que o desejo que experimentais deve ser um verdadeiro suplício, pois não há prazer real...
─ Suplício maior do que pensais. Mas eu procuro atordoar-me, criando-me a ilusão.
9. ─ Vosso estado nos parece muito material. Dizei-nos: dormis algumas vezes?
─ Não. Gosto de rodar um pouco por toda parte.
10. ─ O tempo vos parece longo? Por vezes vos aborreceis?
─ Não. Eu percorro as feiras e os mercados; vou ver chegar a pescaria e com isto me ocupo muito bem.
11. ─ Que fazíeis quando na Terra?

Nota: Alguém diz que sem dúvida era cozinheiro.

─ Apreciador da boa mesa, não glutão. Advogado, filho de gastrônomo, neto de gastrônomo. Meus pais eramfermiers généraux. (Financistas que na antiga monarquia tinham o direito de cobrar impostos, mediante o pagamento de certa quantia fixa ao Tesouro).

Respondendo à reflexão precedente, o Espírito acrescenta:

─ “Bem vês que eu não era cozinheiro e que não te convidaria para os meus almoços, pois não sabes comer nem beber.”
12. ─ Há muito tempo que estais morto?
─ Morri há uns trinta anos, com oitenta de idade.
13. ─ Vedes outros Espíritos mais felizes do que vós?
─ Sim. Vejo alguns cuja felicidade consiste em louvar a Deus. Ainda não conheço isto. Meus pensamentos roçam pela Terra.
14. ─ Compreendeis as causas que os tornam mais felizes do que vós?
─ Eu ainda não as aprecio, como aquele que não sabe o que é um prato refinado e não o aprecia. Talvez chegue a isso. Adeus. Vou à procura de um jantarzinho muito delicado e muito suculento.
BALTAZAR

OBSERVAÇÃO: Este Espírito é um verdadeiro fenômeno. Ele faz parte dessa classe numerosa de seres invisíveis que não se elevaram em nada acima da condição da Humanidade. Só tem de menos o corpo material, mas as suas ideias são exatamente as mesmas. Este não é um mau Espírito. Ele não tem contra si senão a sensualidade, que, ao mesmo tempo, é para ele um suplício e um gozo. Como Espírito, não é, pois, muito infeliz; é até feliz ao seu modo. Mas Deus sabe o que o espera em nova existência! Uma triste volta poderá fazê-lo bem refletir e desenvolver o senso moral, ainda abafado pela preponderância dos sentidos.


Referência:

A. Kardec. Revista Espírita, novembro de 1860. Disponível em http://ipeak.net/site/estudo_janela_conteudo.php?origem=4859&idioma=1&f=. Acesso em 19/07/2016.
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sexta-feira, 8 de julho de 2016

Excertos de Kardec: transição planetária e o princípio da não retrogradação

A partir de fevereiro de 1860, os Boletins da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas passaram a ser publicados em suplemento da Revista. Ainda assim será colocado como referência, além do fato de pertencer ao Boletim,  o ano e o mês da Revista Espírita com a qual eles tiverem sido disponibilizados.



"4.º ─ Leitura de uma comunicação de Lyon, dirigida à Sociedade, na qual, entre outras coisas, é dito o seguinte:
Que a reforma da Humanidade se prepara pela encarnação na Terra de Espíritos melhores, que constituirão uma nova geração, dominada pelo amor do bem; que os homens votados ao mal e que fecham os olhos à luz serão reencarnados numa nova falange de Espíritos simples e ignorantes, e enviados por Deus ao trabalho da formação de um mundo inferior à Terra. Não poderão encontrar-se com seus irmãos terrícolas senão depois que, através de rudes trabalhos, houverem alcançado o nível em que estes últimos vão entrar, após esta geração, porque aos Espíritos maus não será dado assistir ao começo desta brilhante transformação.

O Sr. Theubet observa que esta comunicação parece consagrar o princípio de uma marcha retrógrada, contrariando tudo quanto foi ensinado.

A respeito, trava-se longa e profunda discussão. Ela assim se resume: O Espírito pode decair como posição, mas não quanto às aptidões adquiridas. O princípio da não retrogradação deve entender-se do progresso intelectual e moral, isto é, que o Espírito não pode perder o que adquiriu em inteligência e moralidade e não volta ao estado de infância espiritual. Por outras palavras, nem se torna mais ignorante nem pior do que era, o que o não impede de reencarnar-se numa posição inferior mais penosa e entre Espíritos mais ignorantes que ele, se o mereceu. Um Espírito muito atrasado que se reencarnasse num povo civilizado, aí estaria deslocado e não poderia manter a sua classe. Voltando para junto dos selvagens, em nova existência, apenas retomaria o lugar que havia deixado demasiado cedo, mas as ideias que tenha adquirido durante a passagem entre os homens mais esclarecidos não estarão perdidas para ele. O mesmo deve se dar com os homens que irão concorrer para a formação de um mundo novo. Encontrando-se deslocados na Terra melhorada, irão para um mundo compatível com seu estado moral."


Referência:
A. Kardec. Revista Espírita, fevereiro de 1860, Boletim da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. Disponível em http://ipeak.net/site/estudo_janela_conteudo.php?origem=2787&idioma=1&f=. Acesso em 08/07/2016



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quinta-feira, 7 de julho de 2016

Excertos de Kardec: Efeitos da prece (Revista Espírita de dezembro de 1859)

Segue o artigo na íntegra, muito bom e bem explicativo.

No word o alinhamento dos parágrafos está certinho. Passando para o Blog fica diferente, e este não tem algo como a função da tecla "TAB" no word (comentário válido para qualquer outro post).




Efeitos da Prece

            Um de nossos assinantes nos escreve de Lausanne:

            “Há mais de quinze anos professo em grande parte aquilo que vossa ciência espírita ensina hoje. A leitura de vossas obras não faz senão reforçar esta crença. Além disso, traz-me grandes consolações e lança uma viva claridade sobre uma parte que para mim era treva. Embora muito convencido de que minha existência deve ser múltipla, eu não sabia explicar em que se tornaria meu Espírito nesses intervalos. Mil vezes obrigado, senhor, por me haverdes iniciado nesses grandes mistérios, indicando-me a única rota a seguir para ganhar um lugar melhor no outro mundo. Abristes meu coração à esperança e duplicastes a minha coragem para suportar as provas deste mundo. Vinde, pois, senhor, em meu auxílio, a fim de esclarecer uma verdade que me interessa em alto grau. Sou protestante e em nossa igreja jamais se ora pelos mortos, posto que o Evangelho não o ensina. Como dizeis, os Espíritos que evocais freqüentemente pedem o auxílio de vossas preces. Será porque estejam ainda sob a influência das idéias adquiridas na Terra, ou levará Deus em conta a prece dos vivos para abreviar o sofrimento dos mortos? Essa questão, senhor, é muito importante para mim e para outros correligionários meus, que contraíram alianças católicas. A fim de ter uma resposta satisfatória, creio, seria necessário que o Espírito de um protestante esclarecido, tal como um dos nossos ministros, se dignasse manifestar-se em companhia de um dos vossos eclesiásticos.

            ” A pergunta é dupla: 1º A prece é agradável àqueles por quem se ora? 2º É-lhes útil? Ouçamos, de início, sobre a primeira pergunta o reverendo padre Félix, numa introdução notável a um pequeno livro intitulado: Os mortos sofredores e abandonados.

            “A devoção para com os mortos não é apenas a expressão de um dogma e a manifestação de uma crença, mas, também, um encanto da vida, um consolo para o coração. Que há, com efeito, de mais suave ao coração do que esse culto piedoso que nos liga à memória e ao sofrimento dos mortos? Crer na eficácia da prece e das boas obras para o alívio dos que perdemos; crer, quando os choramos, que essas lágrimas que por eles derramamos ainda lhes podem auxiliar; crer, finalmente, que mesmo nesse mundo invisível que habitam nosso amor pode ainda visitá-los em seu benefício: que doce, que suave crença! E nessa crença, que consolação para aqueles que viram a morte entrar em sua casa e feri-los no coração! Se esta crença e este culto não existissem, o coração humano, pela voz de seus mais nobres instintos, diria a todos que o compreendem, que seria necessário inventá-los, fosse ainda para imprimir doçura na morte e encanto até nos nossos funerais. Nada, com efeito, transforma e transfigura o amor que ora sobre um túmulo ou chora nos funerais, como essa devoção à lembrança e ao sofrimento dos mortos. Essa mistura da religião e da dor, da prece e do amor têm, ao mesmo tempo, um não sei quê de precioso e de enternecedor. A tristeza que chora torna-se um auxiliar da piedade que ora; por sua vez, a piedade se torna, para a tristeza, o mais delicioso aroma; e a fé, a esperança e a caridade jamais se associam melhor para honrar a Deus consolando os homens e fazendo do alívio aos mortos a consolação dos vivos!

            “Esse encanto tão suave que encontramos em nosso intercâmbio fraterno com os mortos, como se torna ainda mais doce quando nos persuadimos de que, sem dúvida, Deus não deixa esses entes queridos absolutamente ignorantes do bem que lhes fazemos. Quem não desejou, ao orar por um pai ou um irmão falecido, que ele ali estivesse para escutar, e, ao fazer por ele os seus votos, ali estivesse para ver? Quem não disse a si mesmo, ao enxugar uma lágrima junto ao caixão de um parente ou de um amigo perdido: Se ao menos ele pudesse ouvir-me! quando meu amor lhe oferece com as lágrimas a prece e o sacrifício, se eu tivesse a certeza de que ele o sabe e que seu amor compreende sempre o meu!Sim, se eu pudesse crer que não somente o alívio que lhe envio chega até ele, mas se também pudesse convencer-me de que Deus se digna enviar um de seus anjos para lhe contar, ao levar-lhe meu benefício, que esse alívio vem de mim: oh! Deus, como sois bom para os que choram, que bálsamo em minhas chagas! que consolo em minha dor!

            “A Igreja, é verdade, não nos obriga a crer que os nossos irmãos falecidos saibam, no purgatório, o que por eles fazemos na Terra, mas também não o proíbe; ela o insinua e parece convencer-nos pelo conjunto de seu culto e de suas cerimônias; e homens sérios e respeitáveis da Igreja não receiam em afirmá-lo. Seja como for, aliás, se os mortos não têm o conhecimento presente e distinto das preces e das boas obras que por eles fazemos, é certo que experimentam seus efeitos salutares. E esta crença firme não basta a um amor que deseja consolar-se da dor através do benefício e fecundar as lágrimas pelos sacrifícios?”

            O que o padre Félix admite como hipótese, a ciência espírita aceita como verdade incontestável, porque dá a sua prova patente. Sabemos, com efeito, que o mundo invisível é composto daqueles que deixaram seu envoltório corporal, ou, por outras palavras, das almas dos que viveram na Terra. Essas almas, ou esses Espíritos – o que vem a ser a mesma coisa – povoam o espaço; estão em toda parte, ao nosso lado como nas regiões mais afastadas; desembaraçados do fardo pesado e incômodo que os retinha à superfície do solo, não possuindo senão um envoltório etéreo, semimaterial, transportam-se com a rapidez do pensamento. Prova a experiência que eles podem vir ao nosso apelo; mas vêm mais ou menos de boa vontade, com maior ou menor prazer, conforme a intenção, como é fácil de conceber. A prece é um pensamento, um laço que nos liga a eles: é um apelo, uma verdadeira evocação. Ora, como a prece, seja ou não eficaz, é sempre um pensamento benévolo, só pode ser agradável àqueles a quem se dirige. Ser-lhes-á útil? Esta é uma outra questão.

            Os que contestam a eficácia da prece dizem: Os desígnios de Deus são imutáveis e ele não os derroga a pedido do homem. Isto depende do objeto da prece, porquanto é muito certo que Deus não pode infringir suas leis a fim de satisfazer a todos os pedidos inconsiderados que lhe são dirigidos. Encaremo-la apenas do ponto de vista do alívio das almas sofredoras. Inicialmente diremos que, admitindo que a duração efetiva dos sofrimentos não possa ser abreviada, a comiseração e a simpatia são um abrandamento para aquele que sofre. Se um prisioneiro for condenado a vinte anos de prisão, não sofrerá mil vezes mais se estiver só, isolado e abandonado? Mas se uma alma caridosa e compassiva vier visitá-lo, consolá-lo e encorajá-lo, não terá o poder de quebrar suas cadeias antes do tempo previsto, não as tornará menos pesadas e os anos não parecerão mais curtos? Quem na Terra não encontra na compaixão um alívio às suas misérias, um consolo nas expansões da amizade?

            Podem as preces abreviar os sofrimentos? O Espiritismo diz: Sim; e o prova pelo raciocínio e pela experiência. Pela experiência, porque são as próprias almas sofredoras que vêm confirmá-lo, descrevendo-nos a sua mudança de situação; pelo raciocínio, considerando o seu modo de ação.

            As comunicações ininterruptas que temos com os seres de além-túmulo fazem passar aos nossos olhos todos os graus do sofrimento e da felicidade. Vemos, pois, seres infelizes, horrivelmente infelizes; e, se de acordo com um grande número de teólogos, o Espiritismo não admite o fogo senão como uma figura, como um símbolo das maiores dores, numa palavra, como um fogo moral, é preciso convir que a situação de alguns não é muito melhor do que se estivessem no fogo material. O estado feliz ou infeliz após a morte não é, pois, uma quimera, um verdadeiro fantasma. Mas o Espiritismo nos ensina ainda que a duração do sofrimento depende, até certo ponto, da vontade do Espírito, podendo ele abreviá-lo pelos esforços que fizer por melhorar-se. A prece – refiro-me à prece real, a do coração, a que é ditada pela verdadeira caridade – incita o Espírito ao arrependimento, desenvolve-lhe bons sentimentos. Ela o esclarece e o faz compreender a felicidade dos que lhe são superiores; impele-o a fazer o bem, a tornar-se útil, já que os Espíritos podem fazer o bem e o mal. De certa modo ela o tira do desânimo em que se entorpece. Fá-lo entrever a luz. Por seus esforços pode, pois, sair do lamaçal em que está preso. É assim que a mão protetora que lhe estendemos pode abreviar-lhe os sofrimentos.

            Pergunta nosso assinante se os Espíritos que solicitam preces não estariam ainda sob a influência das idéias terrestres. A isto respondemos que entre os Espíritos que se comunicam conosco há os que, em vida, professaram todos os cultos. Todos eles, católicos, protestantes, judeus, muçulmanos e budistas, à pergunta: “Que podemos fazer para vos ser útil?”, respondem: “Orai por mim.” – Uma prece, segundo o rito que professastes, será para vós mais útil ou mais agradável? – “O rito é a forma; a prece do coração não tem rito.” Nossos leitores certamente se recordam da evocação de uma viúva do Malabar, inserida na Revista de dezembro de 1858. Quando lhe dissemos: “Pedis que oremos por vós; como somos cristãos, nossas preces vos poderiam ser agradáveis?” Ela respondeu: “Não há senão um Deus para todos os homens.”

            Os Espíritos sofredores ligam-se aos que oram por eles, como o ser reconhecido àquele que lhe faz bem. Essa mesma viúva do Malabar compareceu várias vezes às nossas reuniões sem ser chamada; dizia vir para instruir-se. Acompanhava-nos até mesmo na rua, conforme constatamos com o auxílio de um médium vidente. O assassino Lemaire, cuja evocação relatamos no número do mês de março de 1858, evocação que, diga-se de passagem, tinha excitado a verve trocista de alguns cépticos, esse mesmo assassino, infeliz, abandonado, encontrou em um de nossos leitores um coração compassivo, que teve piedade dele; muitas vezes veio visitá-lo e procurou manifestar-se por todos os tipos e meios até que essa pessoa, tendo tido ocasião de esclarecer-se sobre essas manifestações, soube que era Lemaire, que lhe queria testemunhar o seu reconhecimento. Quanto teve oportunidade de externar seu pensamento, disse-lhe: “Obrigado, alma caridosa! Eu me achava só com os remorsos de minha vida passada e tivestes piedade de mim; estava abandonado e pensastes em mim; encontrava-me no abismo e me estendestes a mão! Vossas preces foram para mim como um bálsamo consolador; compreendi a enormidade de meus crimes e peço a Deus que me conceda a graça de os reparar em uma nova existência, onde possa fazer tanto bem quanto fiz de mal. Obrigado outra vez, muito obrigado!”

            Eis a opinião atual de um ilustre ministro protestante, o Sr. Adolphe Monod, morto em abril de 1856, sobre os efeitos da prece:

            “O Cristo disse aos homens: Amai-vos uns aos outros. Essa recomendação encerra a de empregar todos os meios possíveis para testemunhar afeição aos nossos semelhantes, sem por isso entrar em detalhes quanto à maneira de atingir esse objetivo. Se é verdade que nada pode desviar o Criador de aplicar a justiça, de que ele próprio é modelo, a todas as ações do Espírito, não é menos verdade que a prece que lhe dirigis, em favor daquele por quem vos interessais, é para este último um testemunho da lembrança que não poderá senão contribuir para aliviar-lhe os sofrimentos e o consolar. Desde que testemunha o menor arrependimento, então é socorrido; mas não lhe deixam jamais ignorar que uma alma simpática dele se ocupou. Esse pensamento o incita ao arrependimento e o deixa na doce persuasão de que a sua intercessão lhe foi útil. Disso resulta, necessariamente, de sua parte, um sentimento de reconhecimento e de afeto por aquele que lhe deu esta prova de consideração e de piedade. Conseqüentemente, o amor recomendado pelo Cristo aos homens não fez senão crescer entre eles; ambos obedeceram à lei de amor e de união entre todos os seres, lei de Deus que deve conduzir à unidade, que é a finalidade do Espírito.”

            – Nada tendes a acrescentar a estas explicações?
            Resp. – Não; elas encerram tudo.

            – Agradeço-vos por haverdes por bem no-las transmitir.


            Resp. – Para mim é uma felicidade poder contribuir para a união das almas, união que os Espíritos bons procuram fazer prevalecer sobre todas as questões de dogma que as dividem.



Referência:
A. Kardec. Revista Espírita, dezembro de 1859. Editora FEB
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quarta-feira, 6 de julho de 2016

Explicações por Kardec: médium intuitivo e médium mecânico

Pequena explicação dada por Allan Kardec na Revista Espírita de outubro de 1859 sobre a diferença da ação do Espírito no médium mecânico e no médium intuitivo, com um enfoque no último. Para maiores explicações sobre os fenômenos, sempre recomenda-se a leitura de O Livro dos Médiuns.

"No médium intuitivo o Espírito age sobre o cérebro, transmitindo através do sistema
nervoso o movimento ao braço, e assim por diante. O médium mecânico escreve sem ter a menor consciência daquilo que produz. O ato precede o pensamento. No médium intuitivo, o pensamento acompanha o ato e por vezes o precede. É, portanto, o pensamento do Espírito que atravessa o cérebro do médium, e se por vezes parece que se confundem, sua independência não é menos manifesta quando, por exemplo, o médium escreve, mesmo por intuição, coisas que não pode saber, ou inteiramente contrárias às suas ideias, à sua maneira de ver, às suas próprias convicções. Numa palavra, quando ele pensa branco e escreve preto. Além disto, há tantos fatos espontâneos e imprevistos, que não é possível a dúvida naqueles que os observaram." (grifos nossos)


Reparem que mesmo quando o médium é intuitivo, a independência entre o pensamento dele e o do Espírito comunicante pode ficar clara.

Dúvidas? Comentários? Podem colocar.

Abraço


Referência:


A.Kardec. Revista Espírita, dezembro de 1864, Médiuns inertes. Disponível em http://ipeak.net/site/estudo_janela_conteudo.php?origem=2733&idioma=1&f=. Acesso em 06/07/2016
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