segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Um embrião das casas espíritas atuais?

Na Revista Espírita de janeiro de 1864, num artigo intitulado " Inauguração de vários grupos e Sociedades Espíritas", temos o seguinte trecho:



"Em Lyon acaba de constituir-se um novo grupo em condições especiais que merecem ser assinaladas, como encorajamento e bom exemplo. Esse grupo tem um duplo objetivo: a instrução e a beneficência. Relativamente à instrução, ele se propõe consagrar uma parte menor que a geralmente destinada às comunicações mediúnicas, mas dedicar, em contrapartida, uma parte mais longa às instruções orais, visando desenvolver e explicar os princípios do Espiritismo. Relativamente à beneficência, a nova sociedade se propõe vir em auxílio às pessoas necessitadas, por meio de dádivas in natura de objetos usuais, tais como roupa branca, vestimenta, etc. Além do que ela puder recolher, as senhoras que dela fazem parte dão o seu contributo de trabalho pessoal na confecção de roupas, e por visitas domiciliares aos pobres doentes."


Dessa passagem, comentemos algumas partes:

"(...)condições especiais que merecem ser assinaladas, como encorajamento e bom exemplo."

Aqui vê-se que tal modelo era diferente da maioria dos grupos que vinham sendo fundados até então, pela parte "condições especiais", e que Kardec aprovava essas condições, ao dizer que elas mereciam ser assinaladas "como encorajamento e bom exemplo".




"Relativamente à instrução, ele se propõe consagrar uma parte menor que a geralmente destinada às comunicações mediúnicas, mas dedicar, em contrapartida, uma parte mais longa às instruções orais, visando desenvolver e explicar os princípios do Espiritismo."


Um tempo menor para as comunicações mediúnicas e uma parte mais longa às instruções orais, com o objetivo de desenvolver e explicar os princípios da Doutrina Espírita. O que é isso, se não as reuniões mediúnicas privativas, e as palestras públicas, com estas ocupando, geralmente, a maior parte do tempo da instituição e aquelas um tempo consideravelmente menor? 





"Relativamente à beneficência, a nova sociedade se propõe vir em auxílio às pessoas necessitadas, por meio de dádivas in natura de objetos usuais, tais como roupa branca, vestimenta, etc."


Quantos lugares dão roupas? Se trocar o termo "roupa branca" por "alimento" ou "sopa", tem-se um dos trabalhos assistenciais mais realizados pelas instituições espíritas.  



"Além do que ela puder recolher, as senhoras que dela fazem parte dão o seu contributo de trabalho pessoal na confecção de roupas, e por visitas domiciliares aos pobres doentes."

Distribuição de enxovais? Visitas aos hospitais e pessoas doentes em casa? Só faltou colocar o passe, como é ou era feito por muitos grupos espíritas brasileiros.

Por fim, foi interessantíssimo encontrar essa passagem na Revista Espírita, passagem essa que dá aval para muitas práticas, por vezes condenadas no meio espírita. Vale ler o artigo inteiro claro, mas sobretudo o que vem depois desse trecho, pois o codificador fala, com base nesse fato, do bem, do verdadeiro objetivo do Espiritismo, e da caridade.

E você? O que acha?
Deixe seu comentário!


Referência:
A. Kardec. Revista Espírita, janeiro de 1864. Disponível em http://ipeak.net/site/estudo_janela_conteudo.php?origem=5564&idioma=1&f=
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quinta-feira, 25 de agosto de 2016

[Debate] Uma questão acerca da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas e os grupos espíritas de hoje

A Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas (a fundada por Kardec) era elencada oficialmente como sociedade científica. Por que os grupos espíritas, hoje, são estatutariamente instituições religiosas?

Subsídio:

"(...)a Sociedade, elencada oficialmente entre as sociedades científicas, não é uma confraria nem uma congregação, mas uma simples reunião de pessoas que se ocupam do estudo de uma ciência nova, que ela aprofunda; que, longe de visar o número, mais prejudicial do que útil aos trabalhos, ela o restringe em vez de aumentá-lo, pela dificultação das admissões (...)" (grifos meus).


Referência:
Revista Espírita de junho de 1863.
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quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Conceitos simples: Espiritismo


     Neste conceito, palavras do próprio codificador, com sua clareza e precisão, expostas no preâmbulo da obra "O que é o Espiritismo".


"O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática ele consiste nas relações que se estabelecem entre nós e os espíritos; como filo­sofia, compreende todas as consequências morais que decorrem dessas mesmas relações."

"O Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal."



Referência:

A. Kardec, O que é o Espiritismo?. Disponível em http://ipeak.net/site/estudo.php?idioma=1. Acesso em 11/08/2016.
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quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Excertos de Kardec: Analise tudo

      No artigo a seguir, Allan Kardec discorda do Espírito Lázaro (que tem mensagens em O Evangelho Segundo o Espiritismo, inclusive). Analise tudo, a exemplo do codificador.


Sobre os instintos

(SOCIEDADE ESPÍRITA DE PARIS ─ MÉDIUM: SRA. COSTEL)

Ensinar-te-ei o verdadeiro conhecimento do bem e do mal, que o Espírito confunde com muita frequência. O mal é a revolta dos instintos contra a consciência, este tato interior e delicado que é o tato moral. Quais os limites que o separam do bem que ele contorna por toda parte? O mal não é complexo; é uno e emana do ser primitivo, que quer a satisfação dos instintos às custas do dever.
Primitivamente destinado a desenvolver no homem animal o cuidado de sua conservação e de seu bem-estar, o instinto é a única origem do mal, porque, persistindo mais violento e mais áspero em certas naturezas, ele as impele a se apoderarem do que desejam ou a concentrar o que possuem.
O instinto a que os animais obedecem cegamente, e que é a sua própria virtude, deve ser incessantemente combatido pelo homem que quer elevar-se e substituir o grosseiro utensílio da necessidade pelas armas finamente cinzeladas da inteligência.
Pensas, porém, que nem sempre o instinto é mau e que, por vezes, a Humanidade lhe deve sublimes inspirações, como, por exemplo, na maternidade e em certos atos de dedicação, nos quais com presteza e segurança substitui a reflexão. Minha filha, tua objeção é precisamente a causa do erro em que caem os homens prontos a desconhecerem a verdade sempre absoluta nas suas consequências.
Sejam quais forem os bons resultados de uma causa má, os exemplos jamais devem levar a concluir contra as premissas estabelecidas pela razão. O instinto é mau, porque é puramente humano e a Humanidade não deve pensar senão em despojar-se, em deixar a carne para elevar-se ao Espírito. Se o mal caminha paralelamente ao bem, é que o seu princípio muitas vezes tem resultados opostos a si mesmo, que o fazem desconhecido do homem leviano e arrastado pela sensação.
Nada de verdadeiramente bom pode emanar do instinto. Um impulso sublime não é devotamento, assim como uma inspiração isolada não é gênio. O verdadeiro progresso da Humanidade é a sua luta e o seu triunfo contra a essência mesma de seu ser. Jesus foi enviado à Terra para o provar humanamente. Ele pôs a descoberto a verdade, bela fonte escondida nas areias da ignorância. Não perturbeis mais a limpidez da linfa divina pelos compostos do erro. E, crede, os homens que não são bons e devotados senão instintivamente, são maus, porque sofrem uma cega dominação que de repente pode precipitá-los no abismo 
LÁZARO

OBSERVAÇÃO: Não obstante o nosso respeito pelo Espírito de Lázaro, que nos tem dado tantas e tão belas páginas, permitimo-nos não concordar com suas últimas proposições. Pode-se dizer que há duas espécies de instintos: o animal e o moral. O primeiro, como diz muito bem Lázaro, é orgânico; é dado aos seres vivos para a sua conservação e a de sua descendência. Ele é cego e quase inconsciente, porque a Providência quis dar um contrapeso à sua indiferença e à sua negligência. Já o mesmo não se dá com o instinto moral, que é privilégio do homem. Pode assim ser definido: Propensão inata para fazer o bem ou o mal. Ora, essa propensão é devida ao estado de maior ou menor avanço do Espírito. O homem cujo Espírito já é depurado faz o bem sem premeditação e como uma coisa muito natural, pelo que se admira de ser louvado. Assim, não é justo dizer que “os homens que não são bons e devotados senão instintivamente, são maus, porque sofrem uma cega dominação que de repente pode precipitá-los no abismo.” Os que são instintivamente bons e devotados denotam um progresso realizado; nos que o são intencionalmente, o progresso está por realizar-se, por isso há trabalho e luta entre os dois sentimentos. No primeiro, a dificuldade está vencida; no segundo, deve ser vencida. O primeiro é como um homem que sabe ler, e lê sem esforço, quase sem se aperceber; o segundo é como o que soletra. Por que um chegou mais tarde, terá menos mérito que o outro?


Referência:
A. Kardec. Revista Espírita, fevereiro de 1862. Disponível em http://ipeak.net/site/estudo_janela_conteudo.php?origem=5233&idioma=1&f=Acesso em 04/08/2016.
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segunda-feira, 1 de agosto de 2016

O sectarismo interno


     A Doutrina Espírita é livre de preconceitos, não condena nenhuma religião, e apoia a fraternidade universal.

     Entretanto, quando se fala de trabalhar mediunicamente em mais de uma casa, tomar passe em mais de um centro, frequentar mais de uma instituição espírita, ou outras atividades, tal atitude é vista com maus olhos, até onde eu percebo. Note-se que aqui já é uma atitude do movimento, não da ciência espírita.

     A palavra "sectarismo", segundo o dicionário Houaiss[1], é assim definida:

"sectarismo

substantivo masculino ( sXIV)
1 espírito limitado, estreito, de seita

2 estado de espírito ou atitude sectária; intransigência, intolerância"


     Vê-se que tal termo não combina com o Espiritismo, e até hoje não encontrei fundamentação kardeciana que impeça um trabalhador de agir em duas casas espíritas. Alguns talvez possam argumentar sobre a formação de uma "família espiritual"; mas e a família universal, o amor entre todos, que é o objetivo? Até onde eu percebo, as barreiras são colocadas no plano material, e não existem do outro lado. O bem não tem limite, não tem portões específicos, nem nomes próprios, e a caridade não se importa em ser feita em mais de um lugar. Fazendo-se um bom trabalho em todas que se esteja, qual seria o problema?

     Além disso, acredito que o atendimento dos vários locais tenham características específicas, e o que se precisa pode estar ora em um, ora em outro.

     E vocês, o que acham? Acreditam que esse sectarismo interno realmente existe? Deve-se ou não ser aceito que alguém auxilie, seja como for, em mais de uma instituição espírita? Opinem.


Referência:

Dicionário Houaiss. Disponível em houaiss.uol.com.br. Acesso em 01/08/2016.
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