terça-feira, 3 de maio de 2016

Indicação de Livro: O Espírito e o Tempo - J. Herculano Pires

       
       
         "Uau, que livro!" Essa foi uma frase que passou pela minha cabeça logo depois de terminá-lo.


        Para quem gosta e quer pensar o Espiritismo (enquanto lei da natureza), com uma visão ampla, histórica e crítica do desenvolvimento do homem até chegar nos dias atuais, alertando para os erros que se cometem e os resquícios da antiguidade ainda presentes nos cultos atuais, bem como o que isso tudo tem a ver com a doutrina, e muito, muito mais, essa obra é essencial.

       Iniciando pela divisão dos momentos históricos em horizontes, desde a civilização selvagem (horizonte primitivo) até aquele que ainda iremos alcançar (horizonte espiritual), passando pelo que vivemos (horizonte civilizado), José Herculano Pires narra movimentos desde os primórdios humanos, com manifestações mediúnicas tendo acontecido em todos os tempos, e que os cultos sugiram de fatos naturais, e não o contrário.

       Depois, após explicar o por que da necessidade do formalismo em determinado momento, ressalta a importância de cada fase, e a necessidade de "retorno ao natural", ou seja, a naturalidade dos fenômenos como acontecia na época das tribos, claro que sem dispensar as conquistas adquiridas, conforme o seguinte trecho:



"Partindo do natural, os homens construíram na Terra o seu mundo próprio, artificial. O desenvolvimento da inteligência humana, cuja característica é o pensamento produtivo, tinha forçosamente de levar os homens pelos caminhos da abstração mental, e consequentemente do formalismo. (...) Mas a finalidade do convencionalismo, e consequentemente do formalismo, não é distanciar o homem da natureza, e sim facilitar a sua adaptação a ela. Por isso, mais hoje, mais amanhã, o homem teria de voltar ao natural, destruindo pouco a pouco os excessos de convencionalismo, os exageros perniciosos do seu artificialismo."



        Além disso, o autor critica o movimento espírita em diversos pontos, como, por exemplo, no que se refere à parte pedagógica, quando diz que "(...) os congressos e simpósios educacionais espíritas revelam o quase total alheamento, dos professores espíritas, pelo desenvolvimento da Pedagogia Espírita, sem a qual só haverá escolas comuns com o rótulo formal de espíritas" e mais a frente, ao declarar que "A escola espírita só pode corresponder a esse nome se representar o novo tipo de educação determinado pelos princípios espíritas.". Também o faz no tocante à Cultura Espírita, conforme o seguinte trecho:



"Foi gigantesco o esforço do famoso Druida da Lorena (...) para mostrar que o Espiritismo era uma nova concepção do homem e da vida, que não se podia confundir com as escolas espiritualistas ancestrais, carregadas de superstições e princípios individualmente afirmados ou provindos de tradições longínquas, sem nenhuma base de critério científico. O mesmo acontece hoje entre nós, sob a complacência de instituições representativas da doutrina e o apoio fanático de líderes carismáticos, piegas espirituais e alucinados mentais a dirigir multidões de cegos."



        E ainda comenta nas linhas seguintes o que acontece quando se tenta corrigir essa situação, afirmando que tais tentativas "se chocam com a frieza irresponsável dos que se dizem responsáveis pelo desenvolvimento doutrinário", o que serve de alerta para o movimento espírita, posto que mesmo tendo sido escrita décadas atrás, uma vez vinda do "homem múltiplo", conforme o chamou Jorge Rizzini, e que possui o currículo que possui, tal comentário merece atenção.

    Em resumo, a obra merece não ser somente lida como estudada por todos os que querem conhecer o por que de certos costumes religiosos, a evolução do Espírito no tempo e, para quem está disposto a refletir, pensar fora do usual e, quem sabe, ter uma direção (jamais absoluta, ou única) na postura a ser tomada pelo Espírita frente ao que ver e ouvir no movimento.

         Por fim, um trecho altamente significativo, extraído do último capítulo do livro, que convida a uma reflexão:


"O medo do pecado que sai da boca, da pena ou das teclas (...) faz desaparecer do meio espírita o diálogo do passado recente, substituindo o coro dos debates pelo silêncio místicos das bocas-de-siri. Ninguém fala para não pecar e peca por não falar, por não espantar pelo menos com um grito as aves daninhas e agoureiras que destroem a seara." 

Abraço a todos!

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