sábado, 6 de fevereiro de 2016

Diretrizes e bases para a divulgação da Doutrina Espírita nos tempos atuais

O texto abaixo foi escrito em 2014, pouco depois de ter lido "Obras Póstumas".
Sei que muito do que se encontra nele já é praticado, mas fiz um ou outro pequeno ajuste e o coloco para discussão.
Sejam Bem Vindos!


Diretrizes e bases para a divulgação da Doutrina Espírita nos tempos atuais

            "De vinte cinco em vinte cinco anos, pois, é que a constituição orgânica do Espiritismo será submetida à revisão". (Obras Póstumas)

             Introdução
            O presente trabalho é fruto de observação pessoal, e nele se encontram pontos de vista baseados no livro "Obras Póstumas", palestras e vivência própria, não tendo como objetivo, pois, ser um estatuto irrepreensível e irretocável, mas somente uma linha inicial para os que se interessam pelo que fazer em termos de comunicação e divulgação do Espiritismo hoje.

            Em 18 de abril de 1857, data do lançamento da primeira edição de "O Livro dos Espíritos", Hippolyte Léon Denizard Rivail, vulgo Allan Kardec, não poderia prever a expansão e diversidade que os meios de comunicação chegariam, 159 anos depois e sendo, portanto, impossível que o precursor desse instruções exatas de como proceder para a expansão da boa nova tanto tempo depois.
            Além disso, por mais esclarecidos que fossem os espíritos que o assistiam, não era tarefa deles dar instruções desnecessárias para o momento e que serviriam tão somente para atrapalhar e confundir os encarnados da época, que não entenderiam o avanço tecnológico no qual estamos, cabendo a nós, agora, analisar, compreender e interagir de forma apropriada, sóbria e equilibrada para não deixar que a terceira revelação seja um artigo de luxo somente conhecido e inteligível por mentes mais escolarizadas e, ao mesmo tempo, sem deixar o afã de "divulgar por divulgar" transformar as tentativas de propagação do Consolador Prometido que consideramos ser esta filosofia espiritualista em apresentações de entretenimento vazias de sentido e propósitos sérios, reais e maduros. Jesus veio para todos, e o que se deve intentar é dar mais possibilidades daqueles que muito confundem ou até desconhecem por completo esta doutrina, ter o mínimo de acesso e, se interessando, serem bem acolhidos nos centros.

             Legitimidade
            Vendo recentes movimentos e preocupações acerca da divulgação do Espiritismo, e entendendo que muito pode dar errado se não houver equilíbrio, gerando o fazer por fazer, minha primeira preocupação foi perguntar "O que Kardec fez assim que ficou pronta a primeira edição do livro dos espíritos?", ao que obtive a resposta de que ele distribuiu para quem quisesse ver. Indo além, quis buscar base Kardecista pura que permitissem que ela (a divulgação) fosse feita sem preocupações, ou melhor, que dessem apoio e a incentivassem.
            Foi com felicidade que pude encontrar várias dessas bases no livro "Obras Póstumas", que no capítulo "Projeto - 1868" de sua segunda parte, tem 2 parágrafos exatamente sobre publicidade, e eis aqui a transcrição do que está no último deles:

"Uma publicidade em larga escala, feita nos jornais de maior circulação, levaria ao mundo inteiro, até às localidades mais distantes, o conhecimento das idéias espíritas, despertaria o desejo de aprofundá-las e, multiplicando-lhes os adeptos, imporia silêncio aos detratores, que logo teriam de ceder,diante da opinião geral."
Resta claro neste fragmento a permissão doutrinária de se utilizar a utilizar a mídia para falar sobre a doutrina. Somando-se a isso a Revista Espírita, e o próprio fato de as obras básicas terem sido colocadas à disposição, mais de 100 anos atrás, em livrarias, fica evidente que o codificador, nascido em Lyon quis espalhar tanto quanto possível a mensagem da terceira revelação, porém, sem obrigar ninguém a nada, o que leva ao segundo ponto.

                 A Modernidade
            Cento e cinquenta e nove se passaram, e o que antes se restringia à Revista Espírita e jornais de grande circulação, hoje se transformou em todos eles com o acréscimo de Youtube, periódicos online e eventos abertos a qualquer pessoa, fazendo-se indispensável mostrar que existe, sem se autoproclamar como o melhor caminho nem querer converter quem quer que seja. Não se atualizar é, como diz André Trigueiro, "se tornar vítima das circunstâncias" e, assim, deixar que os tempos passem sem inovações que cabem a nós, espíritas de hoje, é ir totalmente contra o progressismo da doutrina. Se mesmo no tocante às descobertas, ao famoso certo e errado, ela diz que tem que ser revista e adaptada ao que vier de novo, penso que esta direção também deve ser seguida no tocante à comunicação e divulgação.

             O Público-Alvo
            "Coerente  com seus princípios, o Espiritismo não se impõe a quem quer que seja; quer ser aceito livremente e por efeito de convicção. Expõe suas doutrinas e acolhe os que voluntariamente o procuram.
            Não cuida de afastar pessoa alguma das suas convicções religiosas: não se dirige aos que possuem uma fé e a quem essa fé basta; dirige-se aos que, insatisfeitos com o que se lhes dá, pedem alguma coisa melhor." (grifos meus) - Obras Póstumas, Primeira Parte, Ligeira Resposta aos Detratores do Espiritismo.
            De forma alguma a Doutrina Espírita deve recorrer ao proselitismo. Se, por um lado, ficou claro que não devemos ficar parados, querendo que ela se divulgue por si só, esperando que, quando alguém entre em nossa casa, veja um livro e pergunte "Nossa, que legal, o que é isso? Onde posso saber? Me fala mais?", também cabe a nós o respeito pelos que não se interessam e não querem saber. Tem-se de tomar cuidado para não transformar a divulgação e a comunicação em um grande espetáculo artístico com o único fim de ganhar novos adeptos.

               Conclusão
            Ante a breve exposição seguem, pontualmente, aspectos importantes acerca do movimento de divulgação e comunicação. Mais uma vez, ressalto que não tenho a menor intenção de expor aqui verdades incontestáveis nem de apresentar algo completo.

1- Respeito ao próximo e às crenças. Se ele já tem uma e é feliz com ela, não o aborde;
2- Se Kardec utilizou de meios de divulgação, e os espíritos a aprovaram em meios de grande circulação, temos a legitimidade para fazê-lo com os métodos que a modernidade nos disponibiliza;
3- Espiritismo não é "feira", e devido à sua seriedade, importa que não façamos nada que venha a ser simples entretenimento sem significado alegando ser em nome da divulgação como, por exemplo, shows em praça pública só para dizer que o movimento espírita está apoiando.
4- É perfeitamente possível fazer boa divulgação sem fazer alarde circense. Deixemos que quaisquer polêmicas, grandes repercussões, críticas e elogios públicos sejam feitos pelos que veem as notícias. Nossa intenção deve ser tão só mostrar que existe, não tornar a doutrina famosa.
5- O objetivo da divulgação é acalentar e consolar quem precisa, o que jamais deve ser perdido de vista.

2 comentários:

  1. Prezado Cláudio, excelente material! A divulgação doutrinária tem sido um assunto de minha preocupação especialmente porque o mundo está mudando e com ele as formas de se divulgar alguma coisa. Em especial vejo por experiência em Casas Espíritas que trabalhei, mas também nos trabalhos de palestras públicas, que a frequência na Casa Espírita é menor, mas muito, muito menor do que o número de pessoas que são espíritas. Vou dar um exemplo: cerca de 2,5 % dos brasileiros são espíritas (é uma estimativa conservadora baseada no censo de 2010). Vassouras, a cidade onde nasci e moro, tem cerca de 35.000 habitantes. Pelo censo: cerca de 900 espíritas. Nas duas casas da cidade que são efetivamente de orientação "kardecista" a frequência deve girar em torno de 70 pessoas aproximadamente. Com pouca variação essas cerca de 70 pessoas são as mesmas toda semana. Onde estão os outros 830? Isso representa cerca de 8% de frequência. Pelo que vejo nas palestras de cidades na região Sul Fluminense a realidade não é muito diferente. Então temos um público que precisa ser alcançado em suas casas. Em parte tal fato talvez se dê pela própria natureza da Doutrina Espírita: uma "Doutrina do Livro". As pessoas compram livros espíritas/espiritualistas e leem em casa. Bom, o trabalho precisa ser sempre feito com o máximo zelo dentro das Casas Espíritas, mas não podemos deixar de alcançar de alguma forma os espíritas que não vão a Casa Espírita. O seu Blog é um exemplo de estratégia. É um tema para debatermos um pouco mais. Abração.

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    1. José Ronaldo, nunca tinha pensado nem sabia dos números que falou. Entretanto, ainda que o link a seguir seja sobre jovens, acho que muito do que vc falou encontra respostas no seguinte vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=AUddBwwZN7w

      Fora isso, acho que falta um diálogo maior entre as casas. Não faço parte de diretoria nem nunca fiz, mas será que não seria pertinente, em algumas reuniões, procurar entender o perfil do espírita local? Sei que existe massissamente uma falta de trabalhadores nas casas. Ainda assim, por que existe essa falta? O que fazer daqui para frente? Muitas questões! Livre para quem quiser opinar!
      Abraço

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